Como transformar o Amor em ódio
Quando ainda dava meus primeiros passos na caminhada das Comunidades
Eclesiais de Base - CEB’s, iluminado pelo sol da Teologia da Libertação, um dos
grandes mestres educadores que tive, me disse uma vez: “O sal e outras
substância que têm as mesmas características, são chamadas de “conservantes”
porque não deixam a vida acontecer”, ou seja, matam os seres vivos que estão processando
a ciclagem biogeoquímica da matéria. Há 15 anos isso não fazia tanto sentido
quanto agora.
Hoje, a direita conservadora nos costumes e liberal na
economia, saiu das sombras e se sente cada vez mais à vontade para disseminar
sua onda reacionária pelo mundo, pregando o machismo, racismo, homofobia e
xenofobia nas antigas ideias deformadas pelo capitalismo de “tradição e
propriedade”, tentando a todo custo transformar o amor em ódio através da
disseminação da intolerância.
As relações sociais, vinculadas por determinações históricas
dos meios de produção, criadas no seio da sociedade capitalista, produziram
relações espelhadas (como isomeria óptica), formulando o produto da própria negação
hipócrita da direita fascista. Ou seja, o produto criado por ela, será o objeto
de sua negação, onde as “velhas tradições mortas assombram como fantasmas o
mundo dos vivos”.
Vou citar apenas um exemplo, pois esse foi o objeto que me
inspirou a escrever este texto: a declaração do grande Papa Francisco na missa
de batismos de 33 bebês na Capela Sistina, no último domingo dia 11 de janeiro,
que assombrou em Roma os conservadores de plantão. Eu poderia citar vários
outros, posto que a sociedade capitalista está recheada deles, mas os guardarei
para outras ocasiões que gestarão outros textos.
Para se produzir mercadoria é preciso agregar valor de uso e
valor de troca, convertendo-a em capital, pois o valor de uso está tanto para saciar
as necessidades materiais de reprodução da vida social quanto para saciar as necessidades
subjetivas humanas, como o prazer. Logo, essa sensação pode ser convertida em
mercadoria, o que levou na sociedade capitalista e patriarcal a comercialização
e exploração mercantológica do corpo, principalmente feminino, para uma
reprodução de prazer sexual, na tentativa de comercializar o “amor”.
A demasiada exposição mercantológica da sexualidade,
associada as tradições de exploração patriarcal e assegurada pela moral
burguesa de propriedade privada, alienou nossa concepção de relação amorosa,
deformando a moral sexual e a sexualidade. Agora, querem me dizer que o sublime
ato de amamentar é uma exposição do corpo, e um desaforo aos bons costumes, quando
na verdade até Maria amamentou Jesus. O ato de gerar e manter vida (antagônico
ao conservadorismo), seja na gestação ou amamentação, só pode ser comparado aos
dons do Espírito Santo.
Finalizo com mais um ensinamento que recebi nessa caminhada,
dessa vez de uma mestra, que também era madre. Uma vez tentada por um
conservador, foi interrogada: “Sabemos que a igreja é contra a mentira e o
roubo. Pois bem, um menino de rua, comprovadamente com fome, furta uma maçã em
uma banca de feira. A criança deve ser punida? O ato está errado? O que diz a
senhora sendo freira? ”. A madre respondeu sem nem pestanejar: “É claro que a
criança está certa, pois o direito a VIDA é maior que o direito à PROPRIEDADE.
Sendo assim, concordo com o Papa Francisco, o direito de
amamentar em público deve ser mantido, e os Fariseus que virem a cara!
Por Fábio Barros
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