Educação Popular e Educação do Campo
A EDUCAÇÃO POPULAR COMO ALTERNATIVA
DE EDUCAÇÃO PARA O CAMPO: PRIMEIRAS INCURSÕES
Joel Luiz Guerra[1]
Flavio Moreira de
Paula
Ítala Cristina
Neves
Resumo
O trabalho ora apresentado, é uma pesquisa de cunho
teórico, resultado da Disciplina Fundamentos da Educação, ministrada no curso
de geografia na Universidade Federal do Pará/ Campus de Altamira. O objetivo
central é apresentar e analisar à luz da teoria da educação popular e
consequentemente do método de Paulo Freire, a educação do campo, e essas
primeiras incursões revelaram que a Educação Popular, apresenta uma concepção de
política e formação essencial, para a eficácia e qualidade do modelo
educacional destinado aos trabalhadores rurais.
Introdução
A
Educação Popular tem como princípio a participação dos indivíduos de uma
população, a solidariedade para a construção de um projeto político de uma sociedade
mais justa, igualitária e humana. Falar em Educação Popular é falar da ação
humana em disputa de poder, é falar de uma práxis educativa cujo ponto de
partida é a realidade social. Ao qual possibilita retomar ao debate proposto
por Paulo Freire acerca da conscientização e compreensão da realidade humana.
Para
Freire (1997), a Educação Popular seria um o espaço em que o homem
ultrapassaria sua situação de homem-objeto a homem sujeito-transformador.A
educação do campo é desenhada e posta em prática pelos sujeitos coletivos e
movimentos sociais que se mostra em contraposição ao modelo da escola moderna
do mesmo modo remete às lutas históricas do campesinato, carrega em si o
sentido das organizações populares do campo e da cidade que em sua trajetória,
participam, realizam e sistematizam experiências da educação. Entre essas e outras
experiências estão à criação do método de Paulo Freire de alfabetização
(FREIRE, 1979, PALUDO, 2001) e a educação do campo (ARROYO, CALDART, MOLINA,
2004) no qual o movimento camponês obteve papel central.
Este
trabalho, se constitui como uma pesquisa de cunho teórico, em que analisamos a
Educação popular como modelo viável de educação apara os trabalhadores rurais
do campo.
1.
Educação
Popular como alternativa de modelo de Educação para o campo
Por
volta da década de1940, período em que as questões relacionadas à educação de
base surgiu no país,a educação popular era concebida como extensão da educação
formal para todos, sobretudo para os habitantes das periferias urbanas e zonas
rurais” (VALE, 1992, p. 7). Essa conjuntura internacional influenciou diretamente
as mobilizações nacionais que acabaram dando ênfase na educação das massas,
tornava-se necessário pensar em uma política de educação de base a qual a
população tivesse acesso ao ajustamento social. No entanto voltava-se a atenção
ao homem do campo que ate então só conhecia uma experiência básica rural, era
preciso ter acesso a leitura, a escrita, convivência social tornando-se apto as
exigências da vida moderna.
Na
década de 1950, período em que foi marcado por mobilizações em favor da
Educação Popular, inicia uma luta em que mudasse a visão preconceituosa sobre o
analfabetismo, ocorre também a difusão das ideias de Paulo Freire, para quem a
Educação não poderia ser vista como uma mera ferramenta de transmissão de
conhecimento, mas sim uma ação capaz de libertar e emancipar as pessoas.
Nos
primeiros anos da década de 1960 começou asurgir no Brasil movimentos voltados
a cultura popular contrapondo o uso político de dominação e alienação da classe
burguesa. Freire juntamente com outras pessoas fundaram o Movimento de Cultura
Popular de Recife (MCP), qual tinha como intenção levar para as pessoas a
cultura produzida pelo povo como principal instrumento de libertação.Neste
mesmo período Freire desenvolveu uma experiência em alfabetização para adultos
“[...] na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte em 1962”. Esta experiência
procurava superar a educação domesticadora. Para Freire a Educação Popular
seria um o espaço em que o homem ultrapassaria sua situação de homem-objeto a
homem sujeito-transformador.
A
instalação da ditadura militar em 1964 em seu aprofundamento em 1968, onde
levou o distanciamento total da população na participação de decisões
elementares para o coletivo, devido especialmente ao autoritarismo instalado no
Brasil e o fechamento do regime a qualquer participação popular. Com o
silenciamento dos movimentos de Educação Popular em 1967 o governo militar cria
o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) ao qual se restringia a
concepção político-filosófica de Paulo Freire. Tal movimento estimulava o
individualismo e a adaptação da vida moderna.
Com
a crise da ditadura militar vivenciada no final da década de 1970, ressurge a
Ascenção dos movimentos sócias no Brasil e, mais uma vez o povo volta às ruas,
embora a repressão exista disfarçadamente. Os movimentos ganham corpo e saem a
procura de seus direitos.Com a globalização da economia no final dos anos 80,se
instalou a política neoliberal no Brasil e com ela,torna-se evidente a mais
perversa face do capitalismo, a progressiva segregação e exclusão. Assim, “Cai
na desesperança, no sentido de impotência e se entregar ao fatalismo, e nele
[...] não é possível juntar forças indispensáveis para o embate no mundo” (FREIRE,
1992, p. 10) além do sentimento de impotência é o reflexo da forma como as
forças do poder atuam em nossa subjetividade.
Após
a breverevisita ao contexto histórico da Educação Popular no Brasil, podemos
reafirmar que a partir de então, essa concepção de educação e metodologia
contribuiu na resistência das classes populares na disputa de forças por vezes
invisíveis que sustenta o capitalismo neoliberal. Falar em Educação popular é
falar do conflito que move a humanidade, é falar de uma perspectiva de Educação
cujo ponto de partida é a realidade do social, tendo como objetivo a construção
de uma sociedade, mais justa e, mais humana.
Assim,
a educação do campo é desenhada e posta em prática pelos sujeitos coletivos e
movimentos sociais populares que se mostra em contraposição ao modelo da escola
moderna do mesmo modo remete às lutas históricas do campesinato, carrega em si o
sentido das organizações populares do campo e da cidade que em sua trajetória,
participam, realizam e sistematizam experiências da educação. Entre essas e
outras experiências estão à criação do método de Paulo Freire de alfabetização
(FREIRE, 1979, PALUDO, 2001) e a educação do campo (ARROYO, CALDART, MOLINA,
2004) no qual o movimento camponês obteve papel central. Do modo que o trabalho
é princípio educativo e formador de classes. Com finalidade de levantar
elementos que construa uma concepção de educação popular resgatando sua relação
com o mundo do trabalho, naqual se constitui os movimentossociais populares,
suas práticas pedagógicas e sociais.
A
educação moderna produzida pela burguesia obtida como classe vitoriosa na
transformação do feudalismo em capitalismo reduzindo os processos escolares,
negando ou subordinando o aprendizado originado da experiência e da cultura,
porém principalmente os que decorrem do trabalho.A educação popular no campo
demanda de uma epistemologia cuja fonte do conhecimento tem sua validade no
saber e na experiência. Do conhecimento nasce o engajamento, a ação
transformadora no bojo da necessidade de agir/pensar e sentir.
Pode
haver um estranhamento de quem não acompanha de perto a discussão sobre o
modelo educacional vigente e mais estranheza ainda quando falamos em educação
para o campo, pode ser inevitável a pergunta, é de fato necessário uma educação
diferenciada para o campo? No que isso decorre? Quais as propostas e resultados
de tais métodos? Historicamente nosso sistema de educação priorizou com ênfase
a educação urbana, com o advento da massiva industrialização nos anos de 1930,
o campo passa a ser mais desprestigiado ainda, valorava-se mais as migrações
para as cidades onde os “solares” necessitavam de mãos de obras para o
desenvolvimento do sistema capitalista. O campo passa a ser sinônimo de atraso,
chacotas e subdesenvolvimento, pressionando assim as pessoas ao êxodo rural.
Portanto, para a educação formal não haveria motivos para que se investisse em
escolas nas áreas rurais, ficando assim os filhos e filhas de camponeses
alijados no quesito estudar.
Com
todos esses entraves para o avanço educacional da população camponesa,os
movimentos sociais vêem se obrigados a enfrentar essa situação caótica imposta
pelos dominantes, nasce então uma articulação nacional por uma educação do campo,
compostas de movimentos sociais, ONGs, universidades, e diversas outras
organizações que defendem uma educação digna para o povo campesino. É na
educação popular que esses movimentos, organizações educadores e
estudiosos comprometidos com as causas
populares vêem uma alternativa de mudança, real esperança para o
desenvolvimentos dos trabalhadores em uma consciência crítica e emancipadora. É
necessário que a educação do campo seja voltada para ação transforamadora da
realidade, que tenha suas caracteriscas próprias, criando assim sua identidade
respeitando o saber social e a experiência vivida por todos.
Os movimentos sociais fertilizam a educação no
campo emduas conferencias nacionais, uma em 1999, outra em 2004. As propostas
derivam de princípios políticos e concepções construídas coletivamente levando
em conta as diversidades do sujeitos e seus movimentos. A partir dessa unidade,
a luta se intensificou por uma educação com um olhar para dentro do sujeito que
se enseja na área rural, protagonizando-o como sujeito principal na arena social,
e fortalecendo as relações entre homem e natureza moldando-a na Perspectiva
política de um mundo novo para o povo.
Assim
sendo os frutos não demoram a aparecer Vemos que no âmbito institucional o MEC
criou a secretaria de educação continuada alfabetização e diversidade que
inclui em sua estrutura a coordenação geral do campo e o do grupo permanente do
trabalho de educação do campo. As reivindicações do movimento também
contribuíram para a formulação e provação da diretrizes operacionais para a
educação básica para as escolas do campo pelo conselho nacional de educação
(Resolução CNE/ CEB,1 de 3 de abril de 2002.) outro importante ganho para os
movimentos sociais foi a criação do, programa nacional de educação na reforma
agrária- PRONERA, que é destinado aos projetos educacionais nas áreas da
reforma agrária.
Segundo Hage (2011), No processo educacional que se
efetiva por meio dessas experiências, o ser humano e sua humanização assumem a
centralidade, à medida que se intenciona educar para enfrentar os problemas
concretos vividos pelos sujeitos, para melhorar sua qualidade de vida e
formálos enquanto sujeitos sociais emancipados que compreendem as relações
sociais presentes no mundo atual e buscam a concretização de sua cidadania.
Finalizando
Enfim
há ainda diversos outros ganhos, inclusive na área de pós graduação, destinados
as formação de educadores vindo das áreas rurais ou que vão nelas atuarem.
Podemos assim concluir que a educação popular no campo, baseados em seus
princípios libertadores, deve continuamente formar educadores que atendam a
necessidade das idéias defendidas pelos movimentos, baseadas nos conhecimentos
e experiências da comunidade, fazendo a relação com o conhecimento cientifico
para a intervenção de forma crítica e participativa na reorganização da comunidade
e de suas unidades produtivas
.
É necessário também que haja a valorização desses educadores tanto no campo das
formações e especializações como no âmbito salarial onde o mesmo possa ser
equiparado ao piso nacional e plano de carreira, essa concepção de política e
formação é essencial, para a eficácia e qualidade do modelo educacional
destinado aos trabalhadores rurais.
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[1] Acadêmicos do curso de Geografia
da Universidade Federal do Pará/ Campus de Altamira.Educadores doMunicipio de Altamira.
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